STJ - Terceira Turma
HC 790.283-SP
Habeas Corpus
Relator: Moura Ribeiro
Julgamento: 21/03/2023
Publicação: 23/03/2023
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STJ - Terceira Turma
HC 790.283-SP
Tese Jurídica
A circunstância de ainda não ter sido proferida sentença nos autos da ação de destituição do poder familiar não veda que seja iniciada a colocação da criança em família substituta.
Nossos Comentários
Resumo Oficial
A controvérsia diz respeito à legalidade das determinações do Juízo da Infância de suspensão das visitas maternas e de autorização para o início de busca de pretendentes à adoção de criança que, atualmente com 9 anos de idade, está em abrigo institucional há quase 3 anos, sem que ainda tenha sido proferida sentença destituindo o poder familiar de sua genitora.
Toda criança tem o direito de ser criada e educada, prioritariamente, no seio de sua família natural ou extensa e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a sua convivência familiar em ambiente que garanta o seu desenvolvimento e proteção integral (Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei n. 8.069/1990, arts. 15 e 19). Na análise de questões dessa natureza, a jurisprudência desta Corte Superior, com esse norte, consolidou-se no sentido da primazia do acolhimento familiar em detrimento de colocação de menor em abrigo institucional.
No caso, todos os relatórios técnicos apresentados pela Rede Socioassistencial e do Setor Técnico do Juízo, foram unânimes em recomendar que a criança fosse colocada em família substituta o mais rápido possível diante da constatação da impossibilidade de retorno para a família natural, pois ela seria novamente submetida a uma situação de risco (negligência e abandono), na medida em que genitora não teria condições mínimas de assumir os cuidados da filha. O longo período de permanência em abrigo institucional tem trazido problemas de ordem emocional, o que causa preocupação e revela que o seu melhor interesse não está sendo observado com a sua permanência no abrigo, conforme constatou a perícia psicossocial do Juízo da Infância.
Nesse sentido, a duradoura permanência em abrigo institucional é manifestamente prejudicial aos interesses da infante. O art. 163 do ECA dispõe que o procedimento para perda e suspensão do poder familiar deverá ser concluído no prazo máximo de 120 (cento e vinte) dias e, no caso de notória inviabilidade de manutenção do poder familiar, caberá ao Juiz dirigir esforços para preparar a criança ou adolescente com vistas à colocação em família substituta. Portanto, no caso, o fato de a ação de destituição do poder familiar dos genitores estar tramitando há mais de 3 anos e não ter sido sentenciada não impede sejam tomadas providências para abreviar o tempo de abrigamento institucional.
A notória inviabilidade de manutenção do poder familiar reclama que, pelo menos, sejam tomadas as providências para início de colocação dela em família substituta. A Resolução do Conselho Nacional de Justiça - CNJ n. 289, de 14/8/2019, que a respeito da implantação e funcionamento do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento - SNA, no seu anexo I dispõe acerca da regulamentação técnica, que prevê em seus arts. 3º e 4º que "A colocação de criança ou do adolescente na situação 'apta para adoção' deverá ocorrer após o trânsito em julgado do processo de destituição ou extinção do poder familiar, ou ainda quando a criança ou o adolescente for órfão ou tiver ambos os genitores desconhecidos" . E, ainda, que "O juiz poderá, no melhor interesse da criança ou do adolescente, determinar a inclusão cautelar na situação 'apta para adoção' antes do trânsito em julgado da decisão que destitui ou extingue o poder familiar, hipótese em que o pretendente deverá ser informado sobre o risco jurídico".
Dessa forma, sem prejuízo do que possa ser decidido nos autos da ação de destituição do poder familiar, a manutenção da paciente em abrigo institucional, além de manifestamente ilegal, não atende ao interesse prioritário e superior de criança, que por previsão constitucional e legal, tem o direito absoluto à dignidade como pessoa em processo de desenvolvimento e como sujeito de direito.
Destituição do Poder Familiar
Uma criança ou adolescente pode ser destituído de sua família de origem em algumas hipóteses, descritas no Código Civil.
A destituição só poderá se dar por meio de sentença judicial, em processo iniciado por provocação do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse. A criança ou adolescente, quando seus genitores são destituídos do poder familiar, deverão ser encaminhados a alguém da família extensa ou, caso não haja ninguém interessado, serão encaminhados para o abrigo para fins de adoção por uma família habilitada.
O Caso
No caso em questão, o STJ discute se é possível suspender visitas maternas a autorização para o início de busca de pretendentes à adoção de uma criança de 9 anos de idade, abrigada há quase 3 anos, sem que ainda tenha sido proferida sentença destituindo o poder familiar de sua genitora.
Vamos melhorar a redação: Uma criança, atualmente com 9 anos de idade, está em um abrigo desde os 6 anos. Isso se deve ao fato de que tramita uma ação de destituição do poder familiar em que o juiz, liminarmente, concedeu a suspensão do poder familiar, com base no artigo 157 do ECA, que permite a suspensão quando identificado risco à criança ou adolescente. Enquanto segue o processo, foi concedido o direito de visita da mãe à filha. No entanto, em determinado momento, a autoridade judicial suspendeu as visitas e determinou que se iniciassem as buscas por pretendentes habilitados à adoção.
Essa determinação é legal? Sim. Segundo o STJ, no caso em questão, todos os relatórios técnicos apresentados foram unânimes em recomendar que a criança fosse colocada em família substituta o mais rápido possível, pois a demora em sua socialização poderia gerar danos ao seu desenvolvimento. Por isso, para o Tribunal, apesar de não ter sido concluído o processo, é possível iniciar essas buscas.