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STJ - Sexta Turma

AgRg no HC 691.897-DF

Agravo Regimental no Habeas Corpus

Relator: Olindo Menezes

Julgamento: 17/05/2022

Publicação: 26/05/2022

STJ - Sexta Turma

AgRg no HC 691.897-DF

Tese Jurídica Simplificada

Ainda que a imprensa se manifeste de forma crítica, satírica ou agressiva, isso não autoriza, por si só, o uso do direito penal para silenciar a atividade jornalística, mesmo que de forma indireta.

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Nossos Comentários

O caso trata de queixa-crime apresentada pelo Procurador-Geral da República contra um jornalista que teria publicado, em revista nacional, reportagem crítica à sua atuação enquanto PGR. No entendimento do autor, o jornalista teria incorrido nos crimes de calúnia, difamação e injúria.

Embora as críticas tenham sido violentas e até mesmo grosseiras, o STJ entendeu que o direito penal não pode ser usado para silenciar a atividade jornalística, mesmo que de forma indireta. Isso porque, caso se admita que um servidor público federal de alto escalão não possa ter sua atuação funcional criticada, mesmo da forma que foi no caso concreto, será o mesmo que manter o jornalismo sob constante ameaça de punição penal caso as eventuais críticas sejam inconvenientes, satíricas, inoportunas ao olhar do criticado.

Conforme entendimento do Ministro Alexandre de Moraes no julgamento da ADI 4.451, o direito fundamental à liberdade de expressão não serve somente para proteger as opiniões supostamente verdadeiras, admiráveis ou convencionais, mas também aquelas que são duvidosas, exageradas, condenáveis, satíricas, humorísticas, bem como as não compartilhadas pela maioria.

Em relação às afirmativas do PGR de que os fatos descritos na reportagem não são verdadeiros, e, portanto, constituem calúnia, é dever dos veículos de comunicação apurar o fato em questão. 

No entanto, no caso em análise, é certo que não se trata de uma verdade objetiva, mas subjetiva. Assim, para haver responsabilidade, é necessário que haja clara negligência na apuração do fato ou dolo na difusão da mentira.

Observa-se que não há dolo específico por parte do jornalista no sentido de caluniar, injuriar ou difamar o PGR. Na verdade, há críticas duras, grosseiras, mas não a presença de animus injuriandi, que é o propósito deliberado de ofender a honra alheia. 

Por esses motivos, ainda que a imprensa se manifeste de forma crítica, satírica ou agressiva, isso não autoriza, por si só, o uso do direito penal para silenciar a atividade jornalística, mesmo que de forma indireta.

Tese Jurídica Oficial

Manifestações por parte da imprensa de natureza crítica, satírica, agressiva, grosseira ou deselegante não autorizam, por si sós, o uso do direito penal para, mesmo que de forma indireta, silenciar a atividade jornalística.

Resumo Oficial

Trata-se de queixa crime apresentada por autoridade pública (Procurador-Geral da República) contra jornalista, após publicação, em revista nacional, de reportagem crítica à atuação no cargo por ele ocupado. Imputação dos crimes de calúnia, difamação e injúria.

O caso presente é até mais emblemático do que aquele julgado pela Terceira Seção e da relatoria do Ministro Ribeiro Dantas - HC 653.641/TO. No referido julgado, esta Corte, examinando o mérito dos delitos imputados ao então paciente, entendeu que não ficara demonstrado o dolo direto, o animus injuriandi, o investigado era uma pessoa particular que se limitara a patrocinar outdoors com críticas ao Presidente da República.

Na presente hipótese, trata-se de um querelado, jornalista, que, nesta condição, assinou reportagem, em revista de circulação nacional, criticando a atuação do querelante, servidor público federal, figura pública, no exercício de suas funções, bem como quanto ao seu relacionamento com o Presidente da República, também servidor público, pessoa que o nomeou para o exercício do cargo que, quando dos fatos, ocupava, e ainda ocupa.

Tais circunstâncias não podem e não devem ser desconsideradas no presente caso. Não se trata de um cidadão comum atacando, por meio de redes sociais, um outro cidadão comum com críticas ácidas, ofensivas, satíricas. Não. Trata-se de um jornalista que criticou, em reportagem assinada, um servidor público federal, chefe do Ministério Público, por atos que praticou (e que, no entender do repórter, não deveria ter praticado) e atos que não praticou (e que, novamente no seu entender, deveria ter praticado).

Foram pesadas, violentas e até mesmo grosseiras, sim, mas caso se admita que um servidor público de alto escalação não possa ter sua atuação funcional criticada, mesmo da forma que foi no caso concreto, será o mesmo que manter sobre o jornalismo uma ameaça constante de punição, de natureza penal, caso as críticas eventualmente tecidas sejam inconvenientes, satíricas, inoportunas ao olhar do criticado.

Como disse o Ministro Alexandre de Moraes quando do julgamento da ADI 4.451: Tanto a liberdade de expressão quanto a participação política em uma democracia representativa somente se fortalecem em um ambiente de total visibilidade e possibilidade de exposição crítica das mais variadas opiniões sobre os governantes. O direito fundamental à liberdade de expressão não se direciona somente a proteger as opiniões supostamente verdadeiras, admiráveis ou convencionais, mas também aquelas que são duvidosas, exageradas, condenáveis, satíricas, humorísticas, bem como as não compartilhadas pela maioria.

E, ainda, diante das afirmativas do querelante de que os fatos descritos na reportagem e a ele imputados pelo paciente/agravante não são verdadeiros e, portanto, constituem também calúnia, que, como disse o Ministro Ribeiro Dantas no precedente mais acima citado, os veículos de comunicação têm o dever de apurar, com boa-fé e dentro de critérios de razoabilidade, a correção do fato ao qual darão publicidade. É bem de ver, no entanto, que não se trata de uma verdade objetiva, mas subjetiva, subordinada a um juízo de plausibilidade e ao ponto de observação de quem a divulga. Para haver responsabilidade, é necessário haver clara negligência na apuração do fato ou dolo na difusão da falsidade.

Não há, portanto, a presença de dolo específico por parte do paciente/agravante no sentido de caluniar, injuriar ou difamar o querelado. Há, sim, críticas duras, grosseiras, certamente inapropriadas ou mesmo injustas, mas não a presença de animus injuriandi.

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