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STJ - Segunda Turma

AgInt no RMS 61.658-RS

Relator: Mauro Campbell Marques

Julgamento: 10/05/2022

Publicação: 27/05/2022

STJ - Segunda Turma

AgInt no RMS 61.658-RS

Tese Jurídica

A exigência dos requisitos previstos em edital para nomeação em cargo público não pode ser afastada por legislação posterior mais benéfica ao candidato.

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Nossos Comentários

A Secretaria estadual lança edital para a abertura de concurso público. Esse edital seguia regras de provimento de cargos que estavam disciplinadas por uma lei estadual X que exigia bacharelado superior.

Posteriormente à publicação desse edital, sobreveio uma outra lei estadual Y reestruturando a carreira. Essa outra lei modificou a nomenclatura do cargo e passou a exigir tão somente uma graduação em geral. Muita gente começou a questionar essa mudança, pois a lei Y aumenta a possibilidade de outras pessoas prestarem o concurso. Para alguns, na vigência das inscrições, seria possível requerer a aplicação dessa lei mais benéfica, em razão da Súmula 266 do STJ.  

Súmula 266-STJ: O diploma ou habilitação legal para o exercício do cargo deve ser exigido na posse e não na inscrição para o concurso público.

O STJ, no entanto, afirmou não ser possível. Isso porque a súmula 266 não trata de aplicação da lei no tempo, mas sim de atendimento aos requisitos do edital. No caso em questão, o edital atendeu aos requisitos da lei vigente à época de sua publicação. Não há que falar em aplicação de lei mais benéfica, portanto. 

Resumo Oficial

Cinge-se a controvérsia em determinar se os requisitos exigidos no edital de concurso podem ser desconsiderados quando as exigências previstas em lei para ocupar o respectivo cargo são alteradas após a homologação do edital para beneficiar candidato que não cumpre as exigências previstas no edital.

No caso, a secretaria estadual lançou edital para a abertura de concurso público destinado ao provimento de cargo que tinha os seus requisitos disciplinados por lei estadual, exigindo bacharelado superior, em qualquer curso de nível devidamente complementado com especialização em administração ou em gestão pública.

Contudo, sobreveio lei estadual que reestruturou a carreira, modificando tanto a nomenclatura deste cargo, quanto os seus requisitos mínimos, passando a exigir meramente uma graduação em geral, suplementada por Curso de Especialização em Administração ou Gestão Pública, com duração mínima de 360 horas, realizado por instituição de educação superior devidamente credenciada pelo Ministério da Educação (MEC).

De acordo com a Ministra Assusete Magalhães (voto-vista), a ratio essendi da Súmula 266/STJ é no sentido de que os requisitos, exigidos no edital do certame para o exercício de determinado cargo público, devem ser comprovados no momento da posse.

Entretanto, o cerne da controvérsia é verificar se esses requisitos, exigidos no edital do concurso - e que eram consentâneos com a legislação vigente à época da publicação do edital -, podem ser alterados posteriormente, mesmo que por lei, seja para prejudicar ou para beneficiar os candidatos.

A Administração Pública, ao publicar o edital do concurso, baseando-se na lei à época vigente, para seleção de candidatos, anuncia a existência de vagas disponíveis, expõe os requisitos que devem ser cumpridos pelos candidatos - podendo estipular critérios de diferenciação entre os participantes, desde que previstos em lei, e cláusulas de barreira, para classificação ou para eliminação de candidatos -, criando expectativas a serem satisfeitas, em caso de aprovação, e descrevem as regras e os procedimentos que serão adotados durante o processo de seleção.

Assim, a entrada em vigor de nova legislação, em momento posterior ao edital do certame e à homologação do concurso, não pode ter aplicabilidade ao concurso público já realizado e homologado, seja para prejudicar, seja para beneficiar o candidato, em face da isonomia entre os participantes, só podendo a novel legislação ser aplicada aos concursos abertos após a sua vigência.

Em face da observância do princípio da vinculação ao edital do concurso e da isonomia entre os candidatos, não há como considerar preenchido, no caso, no momento da posse, o requisito da escolaridade - com o diploma de tecnólogo, e não o de bacharel -, ao arrepio das normas editalícias e legais vigentes na data do edital do concurso, que, ademais, fora homologado antes da vigência da lei estadual que reestruturou a carreira.

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