STJ - Corte Especial
EAREsp 1.125.139-PR
Embargos de Divergência em Agravo em Recurso Especial
Relator: Laurita Vaz
Julgamento: 06/10/2021
Publicação: 18/10/2021
STJ - Corte Especial
EAREsp 1.125.139-PR
Tese Jurídica Simplificada
Na ação de cobrança ajuizada pelo cessionário, a citação judicial do devedor é suficiente para que tome ciência da cessão do crédito.
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Tese Jurídica Oficial
A citação na ação de cobrança ajuizada pelo credor-cessionário é suficiente para cumprir a exigência de cientificar o devedor acerca da transferência do crédito.
Resumo Oficial
Por ocasião do julgamento do REsp 1.119.558/SC, Primeira Seção, DJe 01/08/2012, sob a sistemática do art. 543-C do CPC, ficou consignado que "os créditos decorrentes da obrigação de devolução do empréstimo compulsório, incidente sobre o consumo de energia elétrica, podem ser cedidos a terceiros, uma vez inexistente impedimento legal expresso à transferência ou à cessão dos aludidos créditos, nada inibindo a incidência das normas de direito privado à espécie, notadamente do art. 286 do Código Civil". E, outrossim, que "o art. 286 do Código Civil autoriza a cessão de crédito, condicionada à notificação do devedor".
Nesse contexto, decidiu o acórdão embargado da Segunda Turma que "a validade da cessão de créditos oriundos da devolução de empréstimo compulsório sobre energia elétrica submete-se não apenas ao preenchimento dos requisitos insertos no art. 104 do CC, como também ao fato de a devolução do empréstimo compulsório não se dar mediante a compensação dos débitos com valores resultantes do consumo de energia, ficando sua eficácia sujeita à notificação do cedido (art. 286 do CC)." Asseverou ainda que, "a cessionária não se desincumbiu do ônus de notificar formalmente a parte devedora - Eletrobrás. Cabe ressaltar que, diferentemente do alegado pela agravante, a proposição do cumprimento de sentença, por si só, não equivale à notificação formal da devedora. Deveria, no caso, a cessionária dar ciência da cessão à Eletrobrás antes da propositura da cobrança judicial." (AgInt no AREsp 1.125.139/PR, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, DJe 27/08/2018).
Por sua vez, o acórdão paradigma da Terceira Turma consignou a tese de que "a ausência de notificação do devedor a respeito da cessão de crédito, não pode ser alegada pelo credor [rectius: devedor] quando esse teve conhecimento da cessão quando citado na ação executiva." (AgRg no AREsp 545.311/SP, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 23/03/2015).
Frisa-se, desde logo, que não se vislumbra nenhuma circunstância distintiva no fato de a cessão em tela se referir a crédito oriundo de empréstimo compulsório, tampouco no fato de a devolução do empréstimo compulsório não poder se dar mediante a compensação dos débitos com valores resultantes do consumo de energia.
A controvérsia cinge-se, na verdade, a saber se a citação da devedora em ação movida pelo cessionário atende a finalidade precípua do art. 290 do Código Civil, que é a de "dar ciência" ao devedor do negócio, por meio de "escrito público ou particular."
Pelo que se pode inferir da norma sob análise (art. 290 do Código Civil: A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita.), a finalidade é informar ao devedor quem é o seu novo credor.
É importante ressaltar que o devedor fica dispensado de ter de pagar novamente ao credor-cessionário, se já saldou a dívida diretamente com o credor originário. Ademais, o devedor pode opor ao credor-cessionário as exceções de caráter pessoal que teria em relação ao credor-cedente, anteriores a transferência do crédito e também posteriores, até o momento da cobrança, conforme dispõe o art. 294 do Código Civil (O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente).
Cabe ressaltar que, segundo precedente deste Tribunal Superior, "[a] falta de notificação do devedor sobre a cessão do crédito não torna a dívida inexigível (art. 290 do CC/02)" (REsp 1.882.117/MS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe 12/11/2020).
Nesse contexto, se ausência de comunicação da cessão do crédito não afasta a exigibilidade da dívida, a questão está melhor decidida pelo acórdão paradigma, ao considerar suficiente a citação do devedor na ação de cobrança ajuizada pelo credor-cessionário para atender ao comando do art. 290 do Código Civil, que é a de "dar ciência" ao devedor do negócio, por meio de "escrito público ou particular."
Com efeito, a partir da citação, o devedor toma ciência inequívoca da cessão de crédito e, por conseguinte, a quem deve pagar. Assim, a citação revela-se suficiente para cumprir a exigência de cientificar o devedor da transferência do crédito.
A cessão de crédito é o negócio jurídico bilateral em que o credor transfere a um terceiro, a título oneroso ou gratuito, os seus direitos na relação jurídica obrigacional, independentemente da anuência do devedor.
São partes no contrato:
O caso trata sobre cessão dos créditos de empréstimo compulsório sobre energia elétrica. O empréstimo foi instituído a fim de viabilizar a expansão e melhoria do setor elétrico no Brasil, tendo sido cobrado de consumidores industriais pelas distribuidoras de energia elétrica até 1993.
No empréstimo compulsório, assim como todo empréstimo, os valores devem ser restituídos aos indivíduos posteriormente, sendo que a lei que o instituir deve dispor sobre as condições para devolução dos valores.
Por essa razão, tal medida gerou créditos, os quais, no entendimento do STJ, podem ser cedidos a terceiros, pois não há proibição por parte da lei. Com isso, o cessionário pode propor ação de cobrança perante a Eletrobrás a fim de satisfazer seu crédito.
A questão que surge é: na ação de cobrança, a citação da Eletrobrás é suficiente para que ela tome ciência de que será cobrada por um credor diferente do credor originário? Em outras palavras, a simples citação da entidade atende à finalidade do art. 290 do CC?
O julgado discute a seguinte divergência jurisprudencial sobre o tema:
Diante da divergência, o STJ entendeu que a citação judicial é suficiente para fins de notificação do devedor sobre a cessão dos créditos, considerando precedentes do Tribunal no sentido de que a falta de comunicação ao devedor sobre a cessão de crédito não torna a dívida inexigível.
Com a citação, o devedor toma ciência inequívoca da cessão de crédito e, consequentemente, a quem deve pagar. Assim, privilegiou-se o entendimento da Terceira Turma, que considera suficiente a citação do devedor do devedor na ação de cobrança ajuizada pelo credor-cessionário para atender ao disposto no art. 290 do CC, que é a de "dar ciência" ao devedor do negócio, por meio de "escrito público ou particular".
Conclui-se que na ação de cobrança ajuizada pelo cessionário, a citação judicial do devedor é suficiente para que tome ciência da cessão do crédito.